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Respeito Paterno

O VERDADEIRO RESPEITO PATERNO

Era uma vez um judeu, um bom judeu, a quem D’us havia outorgado todas as riquezas que o coração de um sábio pode desejar. Era muito instruído nos assuntos da Torá e graças a esse conhecimento havia adquirido grande sabedoria; e, além disso, era bem sucedido e feliz nos negócios. Caridoso e generoso, era respeitado por todos. Ao constatar que possuía todo o necessário para uma vida confortável, encerrou suas atividades profanas e decidiu consagrar todo seu tempo para estudar a Torá e transmiti-la pelo ensinamento aos seus dez filhos. Saberiam assim preservar a mais preciosa das riquezas que seu pai possuía.

Mesmo para o melhor dos homens, chega o tempo em que ele precisa deixar este mundo inferior, que é, como o sabem aqueles que adquiriram alguma sabedoria, apenas um local de preparação - um “vestíbulo” - para a vida eterna lá em Cima. O herói da nossa história tinha plena consciência do fato; e, tendo tido uma vida dedicada ao essencial, se preparou como precisava para a última viagem. Tendo legado uma parte importante das suas riquezas para instituições que as mereciam, distribuiu o restante entre seus filhos por partes iguais, exceto para o primogênito, para quem, obviamente, reservou uma parte dupla.

O Mais Meritório dos Filhos

Um só problema continuava molestando-o: para qual dos filhos deixaria o belo palácio onde passava os últimos dias da sua vida? Era preciso evitar favorecer qualquer sentimento de ciúme entre eles, considerando-os, como os considerava, igualmente bons, e virtuosos na mesma medida. Não encontrou nada melhor a fazer que decidir no seu testamento, e sem mais especificações, que o palácio seria do mais meritório dos seus filhos.

Tendo ele morrido, tomaram conhecimento, no devido momento, do testamento. Tudo havia sido previsto com muito discernimento, e como provinha de um homem tão sábio e instruído em tudo, o fato não podia espantar ninguém. Na medida que a leitura das últimas vontades do defunto avançava, os filhos aprovavam todas as disposições tomadas, até que chegou aquela relacionada com o palácio. Ela semeou a confusão nos seus corações. Um profundo vínculo os ligava uns aos outros. Mas isso não impediu que cada um afirmasse que não havia nenhuma dúvida: todos sustentavam sem hesitar que o pai havia pensado nele e em mais ninguém quando decidira legar o palácio ao “mais meritório” dos filhos.

Se a situação assim criada devia durar, não deixara, apesar do amor fraternal muito vivo que os dez herdeiros tinham uns pelos outros, de dar origem a divergências muito graves. Acabaram resolvendo, para salvaguardar os laços que os uniam, submeter o caso ao rabino da cidade, homem sábio, grande erudito da Torá, familiarizado também com os negócios dos homens.

O Conselho do Rabino

O Rabino leu o trecho do testamento. Conhecera muito bem o finado e sua família; entretanto ficou muito confuso - exatamente como ficara o autor do testamento - para decidir qual dos dez filhos era efetivamente o mais meritório. Refletiu longamente em silencio; depois dirigiu-se aos dez jovens e disse: “O único conselho que posso lhes dar é de ir ao túmulo ainda recente do seu pai. Cada um por sua vez deve bater na pedra com uma bastão até que a voz do defunto se faça ouvir e ele cite o nome daquele a quem realmente legou seu palácio”.

A aprovação dos filhos foi tão grande que se pensou por um momento que fora unânime.

-  Vamos ao cemitério e façamos o que o rabino sugere, repetia mais ou menos cada um deles.

Preparavam-se para partir quando o mais jovem dos dez irmãos disse com uma voz decidida: “Bem, eu não vou”.

-  E porque não quer se unir aos seus irmãos? Perguntou o rabino.

-  Eu, bater no túmulo com uma vara! Prefiro renunciar aos meus direitos na herança que cometer uma ação tão odiosa com respeito ao meu pai querido, bendita seja sua memória, respondeu o mais novo dos irmãos.

- Você tem toda razão, meu filho, respondeu o rabino. E dirigindo-se a todos acrescentou: Vocês certamente acreditarão em mim se lhes disser que eu não tinha nenhuma intenção de empurrá-los a qualquer ato de desrespeito para seu pai, que hoje lamentamos. Minha sugestão só tinha uma finalidade: fazer-lhes um teste para revelar quem entre vocês é verdadeiramente meritório. Meus amigos, a prova foi feita: eu acho que cada um de vocês está definitivamente convencido que é ao seu irmão mais novo que deve entregar-se o palácio. Só ele merece ser considerado “o mais meritório”.

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